A festa de nossa senhora de Nazaré no rio Caripetuba: uma análise das mudanças e permanências

Este trabalho se propôs investigar as mudanças e permanências ocorridas na festividade de nossa senhora de Nazaré na localidade do Rio Caripetuba, espaço rural (ilhas) do município de Abaetetuba-PA. A festividade ocorre no terceiro domingo do mês de outubro e é esperado pelos fiéis devotos de Nossa Senhora o ano todo, caracterizando um período em que ocorrem mutirões, prevalecendo relações de reciprocidade – em que se ajuda de forma espontânea, sem querer algo em troca – e também as várias formas de devoção à imagem, marcando uma cultura religiosa bastante comum nos interiores da região amazônica, com crenças herdadas de um hibridismo cultural, ou seja, da mistura de culturas historicamente constituídas, mas, que vêm sendo paulatinamente questionadas ou mesmo desvalorizadas pelas novas gerações em função do momento atual pautado em novos modelos de religiosidade. Desta forma, procuramos questionar, em vista das mudanças na forma como se realiza o festejo, o que permaneceu enquanto elemento tradicional da devoção. Para chegarmos à resposta, foi feita uma análise do catolicismo popular no Brasil e mais particularmente na Amazônia, assim como dentro da comunidade lócus da pesquisa. Também procurei entender, a partir de entrevistas abertas, a origem da imagem, como se organizavam as novenas em preparação à festa, o grupo de ladainha, as peregrinações em outras comunidades, como era a tradição dos oratórios nas residências, a simbologia do manto, da bandeira. Para a realização deste trabalho, foi utilizada como metodologia a pesquisa de cunho qualitativo, com observação e aplicação de entrevista e questionários semiestruturados, sendo que foram entrevistadas sete pessoas, delas cinco idosas e duas adultas: uma dessas adultas já foi coordenadora da comunidade e que possui um oratório em sua casa; a outra é a atual coordenadora; os idosos são pessoas que sempre atuaram na comunidade, sendo coordenadores assim como também participantes assíduos, os quais sempre doaram seu trabalho pela comunidade, um deles é um dos herdeiros da imagem. Portanto, tive a intenção de entrevistá-los por terem esse bom envolvimento e trabalho dentro da comunidade desde muitos anos atrás, busquei desta maneira realizar uma análise do passado e do presente por meio dos sujeitos da pesquisa. Também foram utilizados como recursos de coleta de dados caderno para anotações, celular para gravações e imagens fotográficas. Conseguimos com esse trabalho obter resultados de que a festa permanece, porém com algumas modificações, tais como a falta de um grupo de foliões, a retirada das peregrinações em outras comunidades, a extinção da bebida alcoólica que, segundo as entrevistas, foi a melhor mudança ocorrida.