Governamentalidade e BNCC: problematizações sobre as competências socioemocionais

Nos últimos anos acompanhamos a reprodução de discursos a respeito das competências socioemocionais e sua relevância para a melhoria da qualidade da educação no Brasil. Diversas organizações, instituições e fundações posicionaram-se em prol dessas competências defendendo a necessidade de estarem incorporadas a um projeto de currículo unificado com garantias e promessas de alcance de metas e resultados, aumento de eficácia, de produtividade e melhora do desempenho na escola (e na vida profissional) por parte dos alunos. É necessário considerar que a escola produz práticas de governamento, conduz as condutas; nesse caso, as competências socioemocionais se manifestam como um dispositivo capaz de controlar os sujeitos, construindo subjetividades, o que corrobora com as práticas medicalizantes na educação escolar. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é problematizar as competências socioemocionais realizando uma análise sobre a BNCC. Tal análise tem como referencial teórico-metodológico o pensamento do filósofo Michel Foucault baseado, em especial, nas obras A Ordem do Discurso (1999), A Arqueologia do Saber (2002) e Microfísica do Poder (1979). Este trabalho tem cariz qualitativo, bibliográfico e procurou examinar na BNCC a incidência das competências socioemocionais numa leitura de inspiração arqueológica, segundo os moldes foucaultianos. Foram pesquisas em base de dados de textos acadêmicos para realização da análise. E por fim, apresenta suas considerações com o intuito provocar outros questionamentos e sinalizar uma relação das competências socioemocionais com os estudos da medicalização da sociedade e a governamentalidade neoliberal no qual produziu-se o documento analisado.