Do girar da saia ao brilho da coroa: estética e performance na construção da Rainha Junina a partir da miss caipira

Este trabalho investiga a transição da figura da miss caipira para a rainha junina a partir de uma abordagem teórico-prática, fundamentada em vivências pessoais e trajetórias artísticas. Busca se analisar os aspectos estéticos, coreográficos e simbólicos que diferenciam essas personagens nas quadrilhas juninas brasileiras, considerando tanto a tradição quanto a reinvenção performática. A pesquisa utiliza a cartografia como metodologia (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2015; ROLNIK, 1989), entendida como um modo de acompanhar processos, mapear percursos corporais e registrar escolhas criativas a partir da experiência, em diálogo com a noção de escrita que acompanha o real em sua fabricação (DELEUZE; GUATTARI, 1995). O método autoral Raiz-Cena subsidia a análise da construção coreográfica, da presença cênica e da expressão simbólica da rainha junina, articulando saberes populares e processos de criação (SALLES, 2008; 2011). As observações realizadas entre 2015 e 2022 nos estados do Pará, Tocantins, Ceará e Sergipe demonstram como elementos culturais, performáticos e corporais moldam a performance e reforçam identidades singulares. Além disso, ao reconhecer a memória e a oralidade como formas de transmissão de conhecimento (CANDAU, 2016; BRANDÃO, 2002), o estudo legitima os saberes populares inscritos no corpo como dispositivos epistemológicos válidos. O trabalho também evidencia a escassez de produção acadêmica sobre o tema, reforçando a importância de registrar e valorizar práticas que emergem da cultura popular. Ao combinar relato autobiográfico, observação de campo e reflexão estética (FERNANDES, 2002), esta pesquisa contribui para a inserção da cultura junina no meio acadêmico, destacando a riqueza dos processos criativos e oferecendo referências que podem inspirar outras artistas e pesquisadores a explorar e reconhecer a relevância da cultura popular brasileira.