“Eldorado foi um divisor de águas”: rupturas e continuidades durante o processo de especialização do batalhão de Polícia de Choque da Polícia Militar do Pará, a partir do confronto em Eldorado de Carajás/Pará (1995-2009)

Este artigo visa analisar a atuação da Polícia Militar do Pará em conflitos rurais, depois da chacina ocorrida em abril de 1996, em Eldorado de Carajás, no sudeste paraense. Para chegarmos ao processo de transformações estruturais ao qual a corporação foi submetida, ainda no final da década 1990, que modificou sua atuação em ocorrências no meio rural, se faz necessário o entendermos como resultado direto dos acontecimentos retromencionados. Assim sendo, iremos, num primeiro momento, investigar a conjectura do MST e da PM, suas imagens e funções sociais, para então chegarmos à profissionalização das atividades da segurança pública. Todas as mudanças ocorridas – na legislação, no tratamento dispensado pela imprensa e pela sociedade, na postura e ganhos reais – também serão vistas, pois somente assim será possível entender, por exemplo, a estrutura criada pelo Estado para amenizar os problemas de violência no campo, num esforço reativo para a não-repetição de outra carnificina. Esse novo arranjo se baseia na padronização das ações, utilização legal de técnicas e táticas específicas, respeito à legislação vigente, direcionamento e especialização das forças de segurança estaduais, por intermédio de contínuo treinamento. Como qualquer processo histórico, houve rupturas e continuidades, e são essas mudanças – ou a falta delas – que exploramos.